terça-feira, 29 de março de 2011

Salvador e a alteração do juízo de realidade

Comemorar aniversário é coisa boa, muito boa, mas isso não deve ser usado como desculpa para encobrir a realidade. Enquanto seguimos acreditando que Salvador é a primeira maravilha do mundo, o mundo nos faz ver que o buraco onde nos encontramos, além se ser mais embaixo é, também, muito, muito grande. A capital da Bahia (terra da felicidade?!) é uma cidade marcada por imensas e seculares desigualdades sociais. Em qualquer lugar desse enorme e belo sítio pode-se perceber a olhos nus as tais desigualdades. Como se isso não bastasse, há entre a população local o péssimo hábito, reforçado por uma mídia pífia, de negar o óbvio ululante: de grande Salvador só tem a sua cultura, ainda assim, mal apresentada, administrada e explorada. De resto, essa cidade, que há uma década tenta finalizar parcos seis quilômetros de metrô, entre tantas outras aberrações, não passa de um mísero ratinho cuja alteração do seu juízo de realidade o leva a crer ser um grande e portentoso elefante com força suficiente para ser o líder da manada. Os delírios de grandeza desse povo soteropolitano acabarão por levá-lo à loucura ou, quem sabe, o condenarão a vagar eternamente no vale da mediocridade e da estupidez. A matéria abaixo reproduzida reforça as impressões nada filosóficas aqui expostas ao fazer uma análise atenta da crise financeira e política na qual se encontra a tão bela e carnavalesca cidade do Salvador, que hoje completa 462 anos de fundação com muito axé no coração (por Sílvio Benevides).

SALVADOR faz aniversário em meio a caos nas suas contas – Terceira maior cidade do Brasil, Salvador completa 462 anos nesta terça-feira (29) em meio a uma crise financeira sem precedentes, que afeta a prestação de serviços públicos e a popularidade do prefeito João Henrique (PP). A capital baiana fechou 2010 com um rombo de R$ 276 milhões em caixa, o equivalente a cerca de 10% da arrecadação do município. Ou seja, sem dinheiro para pagar obrigações financeiras de curto prazo. É a pior situação de disponibilidade de caixa entre as 17 capitais com dados finais de 2010 disponíveis no Tesouro Nacional. As que ainda não tem os dados finais de 2010 são: Boa Vista, Brasília, Cuiabá, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Palmas, São Paulo e Teresina. A situação repetiu roteiro de 2009, quando o TCM (Tribunal de Contas dos Municípios) do Estado rejeitou as contas da prefeitura. Na ocasião, o órgão alertou para “sintomas preocupantes de desequilíbrio [financeiro] que poderão afetar a solvência da prefeitura”. A insolvência ocorre quando a venda do patrimônio não é suficiente para cobrir dívidas. Multado em R$ 5.000 pelas irregularidades, o prefeito João Henrique aguarda julgamento de recurso no TCM. Se a rejeição for mantida no tribunal e na Câmara Municipal, poderá ser declarado inelegível. Já as contas municipais de 2010 ainda não foram analisadas pelo TCM. “A situação fiscal do município está se agravando, em um momento em que há aumento de despesas gerais e de despesas com pessoal e com terceirizados”, afirma Antônio Souza, técnico do TCM. As despesas de Salvador subiram 15,3% de 2008 para 2009, mais do que o dobro do avanço da arrecadação no período, de 6,5%. Outros indicadores, como dívida e gastos com pessoal, estão dentro dos limites previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Razões do rombo

Para especialistas consultados pela reportagem, contudo, os problemas financeiros de Salvador não podem ser debitados apenas na conta do atual prefeito. Isso porque resultam também de fatores históricos, como baixa capacidade de arrecadação, descaso das elites políticas com a cidade e falta de planejamento nas gestões, apontam especialistas. “O problema é a pobreza da população de Salvador”, destaca Sérgio Furquim, presidente do IAF (Instituto dos Auditores Fiscais) da Bahia. Uma comparação com cidade de porte semelhante, como Belo Horizonte, ajuda a entender a situação. Embora tenha carga tributária apenas 12% superior a de Salvador, a capital mineira tem uma receita disponível 68% maior. Isso ocorre porque Salvador é mais pobre em termos absolutos: o PIB de BH é 42% maior. Com isso, a capital baiana dispõe de quantidade menor de recursos arrecadados por cidadão. Soma-se a esse fator uma certa cultura antitributarista da cidade, avalia o cientista político Paulo Fábio Dantas, da Universidade Federal da Bahia. “A classe média de Salvador se desenvolveu achando absolutamente normal gastar R$ 500 por mês de conta telefônica, mas considera absurdo pagar R$ 600 por ano de IPTU. Isso tem vínculo com uma falta de autoridade política do poder municipal [para promover reformas tributárias]”, diz.

Reflexos da crise

As dificuldades de caixa impactam o cotidiano da cidade, que é uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e se candidatou a abrigar a abertura do torneio. Entre as conseqüências mais visíveis nos últimos meses estão a precarização de serviços públicos, como coleta de lixo e recuperação de vias, e o aumento de movimentos grevistas no funcionalismo municipal. “Os serviços públicos estão entre regulares e ruins. As ruas estão completamente esburacadas”, avalia o urbanista Lourenço Mueller. Desde janeiro deste ano, ao menos oito categorias de funcionários públicos municipais (servidores do Programa de Saúde da Família, Samu, guardas municipais, agentes de trânsito, servidores de Serviços Públicos e de Obras Públicas, salva-vidas e Defesa Civil) promoveram ou ameaçaram greve. Em fevereiro, a Justiça do Trabalho penhorou R$ 2,3 milhões das verbas de patrocínio do carnaval arrecadadas pela prefeitura, para pagamento de dívida de 1993. A cidade lidera outros indicadores negativos. É campeã nacional em crescimento de homicídios entre as capitais, com avanço de 404% nos números absolutos de 1998 a 2008. Também registrou a maior taxa de desemprego (10,3%) em fevereiro entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE.

Crise gera instabilidade política

As dificuldades financeiras de Salvador se refletem no campo político. Segundo pesquisa do instituto Datafolha, o prefeito João Henrique atingiu seu recorde de avaliação negativa em dezembro de 2010. De acordo com o instituto, a gestão é aprovada por apenas 18% dos soteropolitanos, contra 34% que consideram o governo regular e 45% que o avaliam como ruim ou péssimo. Eleito em 2004 pelo PDT, com apoio do PSDB, João Henrique se aproximou do PT do governador Jaques Wagner e se reelegeu em 2008 pelo PMDB. Vivenciou forte crise política na virada do ano, quando teve as contas rejeitadas e ficou temporariamente sem secretário da Casa Civil e líder na Câmara. Deixou o PMDB trocando críticas com o grupo de Geddel Vieira Lima, que lidera a sigla no Estado, e ingressou neste mês no PP, principal aliado de Wagner. A relação com o vice, Edvaldo Brito (PTB), é ruim. “É difícil separar nessa crise quais são os aspectos políticos, administrativos e financeiros. O que fica cada dia mais claro é que não se trata mais de uma crise da prefeitura, mas de uma crise da cidade, de grandes proporções”, afirma Paulo Fábio Dantas. Para o cientista político, a cidade nunca foi prioridade para as elites políticas baianas, que sempre a usaram como ponte para alcançar o poder estadual. “E o problema de João Henrique não é que ele produziu a bancarrota da prefeitura, mas o fato de ter se conduzido até aqui como se ela não existisse”, diz. E a crise, avalia o especialista, tem “componentes explosivos”: o “agravamento drástico de uma situação financeira que vem de muito tempo, uma indigência administrativa terrível, uma ausência completa de firmeza de propósitos em qualquer direção e uma cidade desprotegida politicamente” (por Thiago Guimarães para iG Bahia).

Imagem: Silvio Benevides

A Bahia: fidelidade à tradição

No dia em que Salvador comemora 462 anos, o Salvador na sola do pé reproduz parte do livro "Brasil, país do futuro", do austríaco Stefan Zweig, falecido em 1942 na cidade serrana de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Suas impressões fogem da visão preconceituosa e/ou impregnada de etnocentrismo que comumente alguns estrangeiros lançam sobre o Brasil e sobre a Bahia. Confira! (SB)


Com essa cidade teve início o Brasil e, com direito podemos dizê-lo, a América do Sul. Nessa cidade levantou-se o primeiro pilar da grande ponte lançada sobre o Atlântico, nela originou-se de matéria européia, africana e americana a mistura nova que ainda fermenta eficazmente. Veneremos, pois, a Bahia antes de a admirarmos! Essa cidade tem a prerrogativa de ancianidade entre todas as da América do Sul. Com seus quase quatrocentos anos, com suas igrejas, sua catedral e seus castelos, a Bahia é para o Novo Mundo o que para nós europeus são as metrópoles milenárias, o que para nós são Atenas, Alexandria e Jerusalém: um santuário da civilização. E, como ante uma fisionomia humana, sentimos respeitosamente diante dessa cidade que ela tem uma história, um passado glorioso.


A atitude da Bahia é a de uma rainha viúva, de uma rainha viúva grandiosa como as das peças de Shakespeare. A Bahia está presa ao passado. Há muito tempo que entregou o régio poder a uma geração mais nova e sôfrega. Todavia não abdicou, conservou sua posição e, com esta, uma incomparável dignidade. Altiva e ereta olha do alto para o mar, no qual, séculos atrás, todos os navios se dirigiam para ela; ainda traz os antigos adereços, constituídos por suas igrejas e sua catedral, e essa dignidade de atitude continua a existir na sua população. Podem as cidades mais novas, podem o Rio, Montevidéu, Santiago, Buenos Aires ser hoje mais ricas, mais poderosas, mais modernas, mas a Bahia tem sua história, sua civilização própria, seu modo de vida próprio. De todas as cidades do Brasil foi ela a que mais fielmente respeitou a tradição. Só pelas suas pedras e ruas se compreende a História do Brasil, só essa cidade nos permite compreender como de Portugal nasceu o Brasil.


A Bahia é uma cidade conservadora, uma cidade fiel à tradição: protegeu seus antigos monumentos contra a apressada invasão do que é novo e, através dos séculos, conservou íntegra, exteriormente, sua fisionomia e, interiormente, sua tradição. A quem se aproxima da Bahia pelo mar, não se apresenta ela diferente do que o fazia no tempo dos vice-reis e dos imperadores. Em baixo está o porto com suas ruas comerciais, em grande parte modernizadas, e no alto acha-se a cabeça de pedra, a cidade em forma de fortaleza, a cidade que, calma e imponente, esperava o visitante. Na parte alta foram-se concentrar, há quatro séculos os colonos por trás de estacadas para estarem protegidos contra os assaltos dos piratas e dos aborígenes. O baluarte de barro pouco a pouco foi sendo substituído por uma muralha, atrás da qual se foi erguendo, com segurança, a cidade; dentro de pouco tempo os seus habitantes ousaram construir igrejas e palácios sobre o rochedo alcantilado, e a cidade conservou assim um admirável perfil, uma linha régia. Na América do Sul nada posso comparar com essa atitude altiva e majestosa com que a Bahia olha por cima do seu porto e seus castelos para o longe, para o Atlântico.

Subindo o caminho íngreme, estreito e ladeado de casas muito velhas, reconhecemos quão rica já foi essa cidade. Ela não está empobrecida hoje, não decaiu. Estacionou apenas, e isso lhe dá a beleza que têm todas as cidades que passaram decênios e séculos sonhando, como Veneza, Bruges, e Aix-les-Bains. Demasiado soberba para impetuosa acompanhar a época moderna e erguer arranha-céus, a fim de rivalizar com o Rio e São Paulo, por outro lado, demasiado viva para decair como as cidades do ouro, de Minas Gerais, permaneceu ela o que era: a cidade do antigo Brasil português, e só nela percebemos a origem do Brasil e a tradição secular deste país.


Por toda a parte nessa cidade sentimos a tradição. A Bahia, ao contrário de todas as outras cidades brasileiras, possui um traje próprio, uma cozinha própria e uma cor própria. Em nenhuma outra parte as ruas mostram tanta variedade de cores como na Bahia, onde a população africana e a colonial antiga se conservaram sem grande modificação; sem cessar julgo estar vendo, como quadros vivos, as cenas do “Brasil pittoresque” de Debret, todas aquelas coisas de outrora que já há muito tempo desapareceram das outras cidades grandes. É verdade que automóveis percorrem as ruas da Bahia, mas na cidade velha muares com cangalhas ainda carregam frutas e lenha; nessa cidade ainda podem alugar-se burros por hora, como se alugam automóveis numa cidade moderna, e no porto a carga, como nos tempos dos fenícios e dos romanos, não é embarcada por meio de guindastes, é transportada para bordo às costas de carregadores. Vendedores ambulantes com seus chapéus de palha de abas largas trazem sobre os ombros, como se fosse o travessão de uma enorme balança, um pau de cujas extremidades pendem os cestos com a mercadoria, e na feira noturna os feirantes estão sentados diretamente no chão junto a velas ou a chamas de gás acetileno, entre montões de laranjas, abóboras, bananas e cocos. Ao passo que estão atracados ao cais os grandes e poderosos transatlânticos, baloiçam ainda próximo da terra as pequenas embarcações de vela que chegam das ilhas e vão para elas e cujos mastros formam uma floresta oscilante. E até ainda se vêem as jangadas, que constituem uma curiosidade sem par. São formadas de três ou quatro troncos de árvore ligados entre si sem nenhuma arte, e encima desse conjunto há um assento estreito. Não se pode imaginar coisa mais primitiva que essas jangadas. Mas seus tripulantes saem nelas para o mar alto; é incrível que haja tanta coragem. Conta-se que um vapor norteamericano, havendo avistado uma dessas embarcações distante do litoral, dirigiu-se para ela, pensando que se tratasse de uma jangada de náufragos. Na Bahia tudo, com as mais variadas cores, se mistura, o presente e o passado. Nessa capital encontra-se a velha Universidade com a sua celebérrima Faculdade, a mais velha do país, a Biblioteca, o Palácio do Governo, hotéis e clubes esportivos modernos. Basta andarmos mais duas ruas e achamo-nos numa esfera portuguesa; casinhas baixas, cheias de pessoas, de atividade, com as mil formas do trabalho manual, e logo atrás os mocambos, as choças de crioulos, entre bananeiras e pés de árvore-do-pão. Há ruas asfaltadas e muito perto delas ruas calçadas com pedras brutas; na Bahia podemos, num período de dez minutos, estar em dois, três ou quatro séculos diferentes, e todos eles parecem genuínos. O verdadeiro encanto da Bahia reside no fato de nela tudo ainda ser genuíno e não propositado; as chamadas “coisas dignas de serem vistas” não se impõem ao forasteiro, acham-se incorporadas de um modo imperceptível, no conjunto. Velho e novo, presente e passado, luxuoso e primitivo, 1600 e 1940, tudo isso se une para formar um só quadro, emoldurado por uma das mais tranqüilas e aprazíveis paisagens do mundo.


No permanente pitoresco o que há de mais pitoresco são as baianas, as pretas gordas, de olhos escuros, com seu vestuário especial. Esse vestuário, as baianas, mesmo as mais pobres, usam-no sempre, todos os dias, e não podemos imaginar outro mais pomposo. Não é comparável com nenhum outro, não é africano, não é oriental, não é português, mas sim, os três ao mesmo tempo. Consiste num turbante, enroscado com apurada arte, vermelho, verde, amarelo, azul ou multicor, mas sempre de tom vivo, uma bata branca e uma saia de enorme roda e com a forma de sino. Não posso deixar de suspeitar que as avós ou bisavós dessas crioulas na época da saia-balão tivessem visto em suas senhoras portuguesas as crinolinas e houvessem conservado essa moda em seus vestidos de chita, como símbolo de distinção. Ainda um pano dramaticamente lançado sobre os ombros, que também serve para pôr sobre a cabeça quando sobre ela carregam potes d’água ou grandes cestos, e mais umas pulseiras de metal barato. Assim anda trajada cada uma dessas pretas baianas, cada qual, porém, com outras cores, outros matizes. Mas a imponência dessas baianas propriamente não está no traje, está no garbo com que o usam, no seu modo de andar, nas suas maneiras. Sentadas no mercado ou na soleira duma porta, dispõem elas a sua saia como se fosse um manto real, de modo que parecem estar sentadas dentro duma enorme flor. Nessa atitude imponente, vendem essas princesas de cor as mercadorias mais baratas deste mundo, iguarias gordurosas ou condimentadas que preparam num fogareiro de carvão, iguarias tão baratas que uma folha de papel seria muito cara para nela as embrulharem. As iguarias são entregues aos fregueses em pedaços de folha de bananeira. Essas baianas têm no andar a mesma majestade que apresentam quando assentadas. Carregam sobre a cabeça uma arroba, cestos com roupa, peixe, ou frutas; é um prazer vê-las andarem com isso pelas ruas, de pescoço altivamente erguido, com as mãos nos quadris, com o olhar sério e desembaraçado. Um ensaiador que tenha que ensaiar um drama no qual apareçam personagens régias, poderá aprender muito vendo essas princesas do mercado e da cozinha. À noite, quando as vemos em suas cozinhas escuras, apenas iluminadas pelas chamas do fogão, preparando com misterioso zelo as singulares iguarias, não podemos deixar de pensar nas feiticeiras da antigüidade. Não, não há nada mais pitoresco do que as pretas da Bahia, nada mais variegado, mais genuíno, mais original do que as ruas dessa cidade. A Bahia, e só a Bahia nos permite conhecer e compreender o Brasil (por Stefan Zweig, In: Brasil, país do futuro).

Imagem: Sílvio Benevides

segunda-feira, 28 de março de 2011

Da série besteira pouca é bobagem: agente secreto flagrado por paparazzi

O famoso agente ultra-secreto Max Steel, desaparecido desde o último recifolia, foi finalmente flagrado por um paparazzi albino da revista Doll Faces to Faces em uma aldeia africana localizada às margens do rio Titicaca, no norte de Angola, fronteira com a Namíbia (ou seria Bolívia?). Ao contrário do que foi amplamente divulgado por semanários sensacionalistas europeus, o jovem agente secreto dotado de poderosos poderes e com uma super cara de paisagem não foi eliminado pelo malfazejo Dr. Dread. De acordo com a assessoria da Mattel, agência para a qual trabalha o super-hiper-mega agente secreto, o rapaz tirou umas longas férias sem prazo de vencimento, afinal, defender o planeta contra ameaças malignas não costuma ser uma atividade das mais amenas, que o digam os Osamas da vida. E para quem duvida disso, basta lembrar o que o papa disse sobre os judeus. Eles são inocentes, portanto, não devem ser responsabilizados pela morte de Cristo. Não fosse o papa a afirmar esta inexorável afirmação, eu morreria acreditando que Jesus tinha sido assassinado pela Cleópatra a mando do seu amante Adolf Hitler, irmão mais novo do Napoleão, o Bonaparte VI, que invadiu a França cumprindo ordens do rei de Portugal, Júlio César I. Todavia, como não há argumentos contra fatos, é muito natural achar que no Estado do Amazonas, localizado naquele país (como é mesmo o nome dele?) não tem gente, só mato. Ainda assim há quem duvide, afinal, no Brasil (esse é o nome daquele país!) tudo é possível, até mesmo o Barack, the president of the United States of São Paulo, ser chamado de meu nego. Isso porque estamos a falar a nível de United States of América, porque se estivéssemos a falar a nível de United States of Bahia, o maior país caucasiano fora da África setentrional, ele seria chamado de meu rei e desbancaria até mesmo o Roberto Carlos da Silva(por Sediveneb Oivlis).
*
Imagem: Sediveneb Oivlis.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho... ) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos, É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio... No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ... Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim... Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . . Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... (por Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos)

Imagem: Aniversário, por João Pereira

Grandes são os desertos...

Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes – Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. Grandes são os desertos, minha alma! Grandes são os desertos. Não tirei bilhete para a vida, Errei a porta do sentimento, Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. Hoje não me resta, em vésperas de viagem, Com a mala aberta esperando a arrumação adiada, Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem, Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado) Senão saber isto: Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) Acendo o cigarro para adiar a viagem, Para adiar todas as viagens. Para adiar o universo inteiro. Volta amanhã, realidade! Basta por hoje, gentes! Adia-te, presente absoluto! Mais vale não ser que ser assim. Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. Mas tenho que arrumar mala, Tenho por força que arrumar a mala, A mala. Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. Tenho que arrumar a mala de ser. Tenho que existir a arrumar malas. A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. Olho para o lado, verifico que estou a dormir. Sei só que tenho que arrumar a mala, E que os desertos são grandes e tudo é deserto, E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. Ergo-me de repente todos os Césares. Vou definitivamente arrumar a mala. Arre, hei de arrumá-la e fechá-la; Hei de vê-la levar de aqui, Hei de existir independentemente dela. Grandes são os desertos e tudo é deserto, Salvo erro, naturalmente. Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! Mais vale arrumar a mala. Fim. (por Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos)

Imagem: Wind River Roadless Area, Wyoming (USA), por Jack Dykinga.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Faça do Brasil um território sem homofobia

Findo o carnaval é hora de retomarmos a discussão sobre assuntos há muito pendentes. No mês passado a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, acompanhada da vice-presidente do Senado, senadora Marta Suplicy e de outras autoridades, lançou em São Paulo, um disque-denúncia que prestará atendimento nacional e gratuito dedicado a denúncias de discriminação e violência por orientação sexual e identidade de gênero, em outras palavras, homofobia. O número 100 ficará disponível 24 horas e a identidade do denunciante será mantida em sigilo.

Na mesma ocasião, também foi lançado o selo “Faça do Brasil um território sem homofobia”, cujo propósito é se transformar num símbolo de uma campanha de combate à homofobia.“Vamos atuar com estados e municípios em uma rede nacional contra a homofobia. Nossa meta é atuar no auxilio às pessoas que precisam, e esta é uma população vulnerável à violência”, disse a ministra. Segundo Rosário, o disque-denúncia já funcionava em caráter experimental, quando foi firmada uma parceria entre o governo federal, prefeituras e estados para ajudar no combate à violência contra a população LGBTT. Entre os dias 23 de dezembro de 2010 e 16 de fevereiro de 2011, período em que durou o caráter experimental do Disque-Denúncia 100, foram registradas 343 denúncias de violência contra homossexuais, que representam 1.015 violações. A maior parte dos casos denunciados foi de violência psicológica (42%), seguida de discriminação (25%), violência física (17%) e violência sexual (10%).

Os casos considerados mais graves, a exemplo da violência física, a ministra afirmou que a polícia poderá ser acionada rapidamente. Não está descartada, também, a possibilidade de oferta de proteção para as vítimas, assim como acontece nos casos de violência contra a mulheres e crianças, igualmente atendidas por serviços de disque-denúncia.“Se tivermos situações mais graves, emergenciais, imediatamente vamos telefonar para a polícia e pedir auxílio para localizar o agressor. É possível que se dê proteção para as pessoas vítimas de violência, mas quem terá de fazer isso são os órgãos locais. Para isso, vamos fazer um trabalho de apoio em rede”, afirmou a ministra. É esperar para ver, afinal, a quem denunciar a homofobia nas instituições? Daí a importância do projeto de lei que criminaliza a homofobia.

Aprovado pela Câmara em 2006, o projeto da então deputada Iara Bernardi (PT-SP) foi enviado ao Senado, mas foi arquivado após o encerramento da última legislatura. Por meio de um requerimento apresentado pela a senadora Marta Suplicy (PT-SP), que será a relatora do projeto que torna crime a discriminação de homossexuais, idosos e deficientes, e aprovado pelo plenário no último dia 8 de fevereiro, o projeto foi desarquivado e voltará a tramitar na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. A proposta visa alterar a Lei 7.716/1989, que tipifica “os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” e inclui entre esses crimes o de discriminação por gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero, segundo informou a Agência Senado. A ministra Maria do Rosário, que, como deputada federal, defendia a causa contra a homofobia, afirmou que o governo ainda não tem uma posição oficial manifestada sobre o projeto, mas ela, particularmente, apóia a iniciativa. “Acho que vamos ter um forte debate no Congresso, mas eu faço questão de dizer que temos responsabilidade na defesa dos direitos da diversidade sexual e religiosa, entre outras. A diversidade como um todo é importante, e o governo estará disposto a participar desta discussão”, afirmou a ministra.

A despeito das bem-aventuradas palavras da ministra Maria do Rosário, não se trata de estar disposto ou não. A presidente Dilma Rousseff foi eleita para governar um Estado laico e democrático. Sendo assim, não pode furtar-se de participar e, até mesmo, defender ideias e princípios que visam tão somente ampliar e aprofundar a democracia no país. Iniciativas como o Disque 100 para denunciar a violência homofóbica demonstram que o Executivo está fazendo a sua parte. E quanto ao Legislativo? Até quando o Congresso Nacional esperará para reconhecer que homossexuais são cidadãos como quaisquer outros e, por isso, possuem direitos, entre os quais está o direito a uma vida com dignidade e sem violência? Até quando os parlamentares vão se conscientizar de que legislam para todos/as e não apenas para seus pares? O Brasil precisa entender que ou somos uma nação democrática ou não somos. Não existe democracia pela metade e ela só pode se tornar plena, isto é, uma realidade para a população se as nossas instituições, de fato, reconhecerem que todos/as têm direitos a ter direitos (por Sílvio Benevides).
*

Monteiro Lobato, Ziraldo e Ana Maria Gonçalves

Nunca tinha ouvido falar na Ana Maria Gonçalves até chegar ao meu e-mail a carta abaixo reproduzida. Poucas vezes li um texto tão contundente, lúcido e bem fundamentado, no que diz respeito à defesa de uma causa, no caso específico, o combate ao racismo, que no Brasil é insistentemente negado. Se a carta da Ana Maria Gonçalves fosse a apresentação de um abaixo-assinado, eu o assinaria de imediato. O racismo brasileiro, tão “afetuoso”, precisa ser combatido nas mais variadas frentes e as escolas são, sem dúvida, uma dessas frentes. Nas escolas formam-se mentes. Nelas, definem-se os rumos de um povo, de uma sociedade, de um país, de uma nação. Por isso as escolas são tão importantes. Por isso a educação é um direito fundamental. Sendo um direito fundamental, precisa ser defendido, como o faz brilhantemente a Ana Maria Gonçalves, de quem já me tornei um admirador. Gostaria, entretanto, de fazer uma ressalva. De fato, o Monteiro Lobato foi um dos intelectuais mais racistas desse país. Não é preciso ser um profundo conhecedor da sua obra para constatar isso. A despeito dessa constatação, não estou certo se impedir que crianças leiam suas obras nas escolas brasileiras é a melhor solução para se combater as idéias racistas e eugênicas que ele tanto defendia. Idéias se combatem com idéias e não se pode combater algo que não se conhece. Impedir que o Monteiro Lobato seja lido nas escolas, não ajuda a combater as suas terríveis idéias sobre os negros e mestiços, mas, apenas, a escamoteá-las, o que, definitivamente, contribui, tão somente, para negar o já negado racismo nosso de cada dia. Bom mesmo é o debate. E não há melhor lugar para se debater esse assunto do que as escolas e as universidades. Então, que venha o Monteiro Lobato e tantos outros que, a despeito do talento, não passavam de reles racistas (por Sílvio Benevides).

Carta aberta ao Ziraldo

Caro Ziraldo,

Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).

Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endossa : "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".

Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não veem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro "O presidente negro ou O choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois: “Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".

Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos". Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.

Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa: "Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como “o Lamarca do nanquim”. Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos como “o subversivo da caneta Pilot”, houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem – e de bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".

No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de quem é considerado inferior. "Em que estado voltaremos, Rangel," se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões". Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.

O que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para ilustrar a Cartilha de Direitos Humanos encomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: "O único jeito de uma sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as crianças crescerem." Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.

A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo: "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).

Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de "macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. "Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem, estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola, começam a tirar notas baixas porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.

Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele: "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável". Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de Caçadas de Pedrinho. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo racismo.

Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "(…) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa”. Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, "negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão", e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja aplicação você chama de censura.

Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: "Suas criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais." É isso. Nos livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que "faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças." Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente.

Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem. Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar.

Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão", "vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que "Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos”. Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: "Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também diz, "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos." Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer: "Só dói quando eu rio".

Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,

Ana Maria Gonçalves
Negra, escritora, autora de Um defeito de cor.

Carta originalmente publicada em BISCOITO FINO E A MASSA
*
Imagens: Capa do livro "Caçadas de Pedrinho", ilustrações de Paulo Borges; Ilustração do Ziraldo para o bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa".

domingo, 6 de março de 2011

Poema Falado: O eremita

De acordo com o dicionário, eremita é aquele que vive no deserto, em lugar ermo. A opção por viver sozinho, isolado, longe do convívio social pode resultar de convicções religiosas, de auto-penitência, de misantropia, isto é, aversão ao ser humano, ou pelo simples fato de se amar a natureza e, por esta razão, desejar viver totalmente integrado a ela. Seja como for, o eremita é um buscador. Como bem definiu o escritor argentino Jorge Bucay “um buscador é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra; tampouco é alguém que, necessariamente, sabe o que está buscando, é simplesmente alguém para quem sua vida é uma busca”. Assim são os eremitas, eternos buscadores que estão sempre a buscar seja paz de espírito ou, simplesmente, o lilás do arco-íris. É precisamente essa a temática do Poema Falado desse mês, que marca, entre outras coisas, o início de mais um outono nos meus já adiantados dias. Boa áudio-leitura (por Sílvio Benevides).


*
Imagem: A.Z.