Disse que não iria falar do carnaval de vitrine e ganância que se transformou o carnaval de Salvador. Mas não resisti ao comentário de Papillon e resolvi dar-lhe mais destaque por concordar plenamente com suas palavras. Faço apenas um acréscimo: como se não bastasse o fato de o carnaval soteropolitano ser segregacionista, pois fez das cordas e camarotes um mecanismo muito eficiente de separação social, alerto para o fato de que toda a riqueza por ele gerada não se reverte em benefícios concretos para a cidade. Não conheço, por exemplo, nenhuma praça, rede de esgoto, escola, posto de saúde ou hospital ou qualquer outro serviço de interesse da coletividade recuperado ou construído com o dinheiro gerado pela festa, cuja organização recebe muitos incentivos oriundos dos cofres públicos. Reflitamos sobre isso também (por Sílvio Benevides).
O desabafo de Papillon
É mesmo impossível não falar do carnaval!! Afinal, estamos bombardeados por ele quase que 100% por dia. Mesmo distante das ruas alimentamos essa máquina de fazer dinheiro de alguma maneira. Temos carnaval nos canais de TV, nos jornais e mesmo aqui na internet. Mas como bem fez Silvio devemos e podemos mudar o discurso dessa festa como sendo apenas a festa da felicidade!! Vamos questionar essa felicidade? Para quem é o carnaval hoje? Por que é assim? Cadê o carnaval que era do povo? Quem é esse “todos” para qual o carnaval foi feito?
Eu concordo com Silvio sobre a segregação, mas acho que não devemos calar sobre o carnaval e sim alertar para essa segregação que ocorre no carnaval!! O que a TV mostra como Salvador a terra do carnaval democrático, nós soteropolitanos sabemos que a frase deve ser outra. Salvador virou a empresa do carnaval e aqui diverte-se quem paga mais. Você tem dinheiro? Então venha para o carnaval da Bahia!!
Nós soteropolitanos, saímos das ruas para abrir espaço para o turista que chega do Brasil e do mundo com seu dinheiro para pagar os blocos protegidos por uma corda humana!! Como assim cordas humanas? Cordas formadas por Homens e Mulheres, que na sua maioria são negros. O que eles fazem? Eles estão ali sendo explorados na sua força física, algo que lembra demais a situação dos escravos com seus senhores!! E por receberem o pouco dinheiro que recebem para fazer esse “trabalho”, muda a nomenclatura. Eles são agora conhecidos como “cordeiros” e, assim, não são escravos!??! Muito diferente, não acham? Sim, o que mesmo fazem os “ cordeiros”? Fazem essa corda humana para separar(segregar) os que estão dentro dos que estão fora dos blocos. Eles fazem isso por dinheiro, por sobrevivência e por essa sobrevivência são explorados ao máximo. Você já se perguntou quanto ganha um cordeiro por dia? E quanto ganha o cantor? E quanto ganha o empresário? Quanto se paga para sair no bloco protegido por “cordeiros”? Acho que você não vai gostar muito de saber. Bem, mas um cordeiro não ganha 1/3 de um salário mínimo para sair todos os dias puxando a corda do bloco protegendo as pessoas. E um bloco, a depender da fama da sua atração principal, cobra de seu associado para sair protegido por esse “cordeiro” 4 vezes o valor de um salário mínimo em alguns blocos. Você acha isso democrático? Mas, você pode pensar: mas quem não tem dinheiro vai para rua e se diverte também com as atrações e de graça! Engana-se!! Não é possível fazer isso com as cordas que tomam os espaços das ruas e para piorar a situação quem não gosta de fazer o percurso do blocos correndo atrás do trio protegido dentro das cordas tem a nova opção de segregação que são os camarotes que também cobram fortunas de quem deseja entrar e ficar assistindo protegido da violência. Isso é uma nova separação social!! Os camarotes lotados por quem tem dinheiro tomam conta das calçadas e com isso acaba o espaço da rua e da calçada para quem não tem dinheiro. Então como falar de um carnaval democraticamente correto? Tenta você ir na rua e depois me diz!!
Eu concordo com Silvio sobre a segregação, mas acho que não devemos calar sobre o carnaval e sim alertar para essa segregação que ocorre no carnaval!! O que a TV mostra como Salvador a terra do carnaval democrático, nós soteropolitanos sabemos que a frase deve ser outra. Salvador virou a empresa do carnaval e aqui diverte-se quem paga mais. Você tem dinheiro? Então venha para o carnaval da Bahia!!
Nós soteropolitanos, saímos das ruas para abrir espaço para o turista que chega do Brasil e do mundo com seu dinheiro para pagar os blocos protegidos por uma corda humana!! Como assim cordas humanas? Cordas formadas por Homens e Mulheres, que na sua maioria são negros. O que eles fazem? Eles estão ali sendo explorados na sua força física, algo que lembra demais a situação dos escravos com seus senhores!! E por receberem o pouco dinheiro que recebem para fazer esse “trabalho”, muda a nomenclatura. Eles são agora conhecidos como “cordeiros” e, assim, não são escravos!??! Muito diferente, não acham? Sim, o que mesmo fazem os “ cordeiros”? Fazem essa corda humana para separar(segregar) os que estão dentro dos que estão fora dos blocos. Eles fazem isso por dinheiro, por sobrevivência e por essa sobrevivência são explorados ao máximo. Você já se perguntou quanto ganha um cordeiro por dia? E quanto ganha o cantor? E quanto ganha o empresário? Quanto se paga para sair no bloco protegido por “cordeiros”? Acho que você não vai gostar muito de saber. Bem, mas um cordeiro não ganha 1/3 de um salário mínimo para sair todos os dias puxando a corda do bloco protegendo as pessoas. E um bloco, a depender da fama da sua atração principal, cobra de seu associado para sair protegido por esse “cordeiro” 4 vezes o valor de um salário mínimo em alguns blocos. Você acha isso democrático? Mas, você pode pensar: mas quem não tem dinheiro vai para rua e se diverte também com as atrações e de graça! Engana-se!! Não é possível fazer isso com as cordas que tomam os espaços das ruas e para piorar a situação quem não gosta de fazer o percurso do blocos correndo atrás do trio protegido dentro das cordas tem a nova opção de segregação que são os camarotes que também cobram fortunas de quem deseja entrar e ficar assistindo protegido da violência. Isso é uma nova separação social!! Os camarotes lotados por quem tem dinheiro tomam conta das calçadas e com isso acaba o espaço da rua e da calçada para quem não tem dinheiro. Então como falar de um carnaval democraticamente correto? Tenta você ir na rua e depois me diz!!
Então como ficam os que não tem mais espaço nas ruas para fazer uma “pipoca” (pipoca são as pessoas que pulam feito pipoca, mas sem a proteção das cordas) animada? Ou seja, ou cedemos à pressão empresarial com sua segregação ou nos retiramos da cena e damos lucro às mídias televisivas ou os que gostam muito da festa se sacrificam para pagar um bloco ou camarote para curtir de alguma maneira a festa que se diz “popular”....Claro que para os corajosos ainda se acha um cantinho apertado para dar uma olhadinha , uma espiada em seu cantor favorito. Sendo que para isso se deve ter coragem porque a violência fica justamente para quem está fora das cordas e das proteções dos camarotes. Eu ontem arrisquei essa experiência da pipoca!! Bem, saí muito cedo de casa para uma pequena espiada! As ruas tomadas por camarotes, as cordas, apertos e a violência. Voltei para a segurança da casa e fui falar com amigos que como eu fizeram a mesma escolha. O carnaval não é para todos mesmo!!! (por Papillon)
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Imagem : Delmiro Júnior