segunda-feira, 21 de abril de 2014

O amor eternizado na Arte

Thomas Mann (1937)
O texto abaixo consiste em um trecho de uma carta redigida pelo escritor alemão Thomas Mann ao seu amigo Hermann Lange. Nela, Mann admite que se apaixonara na sua adolescência por um rapaz chamado Armin Armens, seu colega no Katharineum. Esse amor juvenil foi eternizado pelo autor no seu livro “Tonio Kröger”, uma novela de cunho autobiográfico, que nas suas próprias palavras, “mescla melancolia e crítica, subjetividade e ceticismo, sentimentalismo e intelectualismo”. Esse fato ocorrido na vida de Mann deu origem ao amor por Hans Hansen que consome Tonio Kröger “como um desejo pesado e cobiçoso”. Do mesmo modo, é possível dizer que o amor de Mann por Armens originou o arrebatamento que tomou conta do escritor maduro Gustav Aschenbach pelo jovem e belo Tadzio, personagens da excepcional novela “Morte em Veneza”. Em qualquer um dos casos, o amor pueril entre dois rapazes, apesar das constantes perseguições e insistentes negações ao longo dos séculos, foi eternizado por meio de uma arte que brilha intensamente e resiste dignamente feito o sol que nos alumia (por Silvio Benevides).
 
O jovem Armin Martens
(autor desconhecido)
“Eu o amei – ele realmente foi o meu primeiro amor, o sentimento mais terno, mais pleno de felicidade e dor que jamais me fora concedido. Trata-se de algo que nunca se esquece, mesmo tendo passado muitos anos. Isso pode soar ridículo, mas retenho na memória essa paixão inocente como um tesouro. É perfeitamente compreensível que ele passagem não soubesse o que fazer com o meu arrebatamento, que lhe confessei em um ‘grande’ dia. Em parte por minha culpa, em parte culpa sua. Esse sentimento feneceu, então – por ele mesmo, cujos encantos sofreram consideráveis devastações ao longo da adolescência; foi o primeiro de nós a perecer em um lugar qualquer. Mas eu ergui um memorial para ele em Tonio Kröger [...] É incrível pensar, também, que o destino daquele menino-homem foi despertar um sentimento que um dia se tornou um poema eterno”. (por THOMAS MANN – trecho de uma carta escrita para Hermann Lange sobre seu colega de escola Armin Martens, que o inspirou para compor a personagem Hans Hansen do livro Tonio Kröger).
Imagem: Thomas Mann (1937) por Carl van Vechten.
 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Reflexões sobre o golpe civil-militar de 1964

Estudantes do CCE relembram na UFRB o golpe de 1964
(Cachoeira/BA)
Neste 01/04/2014 o Brasil relembra o golpe civil-militar perpetrado pelas forças de oposição ao presidente João Goulart, assim como pela elite civil e militar brasileira que, naquele momento histórico, temia perder seus privilégios de classe devido aos inéditos avanços e conquistas políticas das forças de esquerda dentro e fora do governo. Alguns analistas políticos brasileiros, a exemplo do Jacob Gorender, classificam o golpe civil-militar de 1964 como um movimento de contra-revolução apoiado de forma ampla e irrestrita pelo governo dos EUA, uma espécie de patrocinador oficial de todas as ditaduras latino-americanas daquele período que se seguiram à ditadura brasileira. 

Estudantes de Artes Visuais relembram o golpe (Cachoeira/BA)
Cinco décadas após esse episódio que deu início a vinte e um anos de um regime ditatorial sangrento, o momento é propício à reflexão. O Estado e a sociedade brasileira estão, de fato, imunes a golpes e a ditaduras? O autoritarismo, a arrogância, a truculência e a violência das nossas chamadas forças de segurança deixaram de fazer vítimas? A tortura é, de fato, uma prática banida do nosso país, especialmente das nossas instituições policiais? A nossa democracia é sólida o suficiente para resistir aos ataques e à sanha voraz de uma elite econômica, política e intelectual que não deseja, de maneira alguma, abrir mão um milímetro sequer dos seus privilégios seculares? Os grandes veículos de comunicação, outrora grandes entusiastas do golpe e da ditadura, são, hoje, realmente democráticos? Até que ponto o apoio de ontem não se converterá no apoio de amanhã? Por que ainda não se teve coragem para guilhotinar a cabeça desse leviatã, como fizeram alguns de nossos vizinhos? E quanto ao alto clero da Igreja Católica? Teria aprendido a lição ou continuará sua cruzada implacável contra os infiéis? São questões sobre as quais devemos refletir para que o passado não se repita no presente. Como bem disse o Caetano Veloso, “é preciso estar a tento e forte”, sempre! (por Silvio Benevides

Reportagem Especial – 1964: Um Golpe Na História 

Há 50 anos o Brasil entrava no mais duradouro regime militar de sua história. Numa cadeia de acontecimentos que levaram à deposição do presidente João Goulart, forças civis e militares, governistas e oposicionistas, lutavam para fincar suas posições ideológicas na condução do país. A WebTV.UNEB reuniu especialistas e personalidades que viveram o momento para debater as causas e consequências do golpe militar de 1964.

   

Imagens: Silvio Benevides