quinta-feira, 28 de junho de 2012

Até quando a homofobia continuará matando no Brasil?

Para quem ainda duvida que é preciso enquadrar a homofobia como crime no Brasil e para quem acha que a aprovação do PLC 122/2006, que visa criminalizar a homofobia no país, é fruto de oportunismo ou uma mera besteira, sugiro que leia a notícia que foi divulgada pela imprensa sobre os irmãos gêmeos univitelinos que foram espancados (um deles não resistiu aos graves ferimentos) por suspeitosos homofóbicos na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, após saírem abraçados de uma festa junina e, por isso mesmo, foram confundidos com um casal homossexual por suspeitosos agressores (vide notícia abaixo). Trata-se de mais um caso de homofobia, semelhante àquele que pai e filho foram espancados porque trocavam carinhos após saírem de uma festa de boiadeiro e, também por isso, foram confundidos com um casal de homossexuais. Os questionamentos que ficam são os seguintes: até quando o Congresso Nacional compactuará (por omissão) com crimes de ódio motivados pela homofobia? Até quando assassinos continuarão livres para matar impunemente? Até quando imbecis permanecerão tendo direito de propagar o seu ódio contra homossexuais, travestis e transgêneros e utilizando em vão o santo nome do Senhor para justificarem-se? Até quando a sociedade brasileira continuará mergulhada nas trevas da intolerância? A homofobia não é apenas crime, é, também, uma grave doença que põe em risco toda a sociedade! E doenças dessa natureza devem ser tratadas com educação e leis rigorosas. Conforme escreveu o advogado e professor Enézio de Deus, “o Brasil precisa pagar a sua dívida histórica para com as chamadas ‘minorias sexuais’, em face do sentimento odioso que ainda movimenta tantas mentes preconceituosas: a homo(trans)fobia. Foi tal sentimento, desdobrado em ações brutais, que levou a óbito, esta semana, um dos irmãos gêmeos, no município de Camaçari-BA, pelo fato de os mesmos, ao externarem afeto um pelo outro (abraçarem-se em público), terem sido confundidos como um casal homossexual. Esta é a prova contundente de que, infelizmente, no ‘país do carnaval, das outras tantas festas e da liberação’, as discriminações com base na orientação homoafetiva ou na transgeneridade das pessoas atingem índices alarmantes, a clamarem intervenções sérias e mais educação pelo respeito efetivo à diversidade”. Pois é, está mais do que na hora do Brasil dar um basta a esta situação criminalizando a homofobia, assim como todo e qualquer discurso que incite o ódio contra a população LGBTT (por Silvio Benevides).

Irmãos são agredidos ao andarem abraçados em Camaçari; um morreu – Dois irmãos gêmeos foram agredidos ao andarem abraçados próximo a um evento junino em Camaçari, município na região metropolitana de Salvador, segundo informações da 18ª delegacia da cidade. Um dos rapazes, de apenas 22 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo. O crime ocorreu na madrugada de domingo (24/06).

A delegada responsável pela unidade policial, Maria Tereza Santos Silva, trabalha com a suspeita de homofobia. Ela conta que oito pessoas participaram das agressões aos rapazes, que foram socorridos pelo Samu para o Hospital Geral de Camaçari (HGC). “Assim que soubemos do ocorrido iniciamos as investigações. Cinco jovens estão custodiados aqui na delegacia, todos já foram ouvidos, mas eles não apresentam justificativa para as agressões, além de não possuírem passagem anterior pela polícia. Trabalho com a suspeita de homofobia”, indica a delegada.

O sobrevivente da agressão sofreu fraturas no rosto e já teve alta médica. De acordo com informações de familiares, ele seguiu para Pernambuco na tarde de segunda-feira (25/06), onde foi realizado o enterro do irmão morto. A família ainda não retornou para Camaçari.

Meu irmão era tudo pra mim” – Emocionado e ainda se recuperando dos ferimentos sofridos, o jovem José Leandro da Silva, de 22 anos, descreve nesta quarta-feira (27/06) o momento em que soube da morte do irmão gêmeo, três dias após uma série de agressões que os dois passaram em Camaçari, município na região metropolitana de Salvador. “Senti meu coração parar, senti que tinha perdido algo. Minha irmã disse que eu tinha que ser forte. Eu pensava que meu irmão estava vivo, foi uma dor muito grande, meu irmão era tudo para mim, companheiro, amigo... Nossa ligação era muito forte”, diz.

Os gêmeos foram agredidos ao andarem abraçados próximos a um evento junino na madrugada de domingo (24/06). A delegada Maria Tereza Santos Silva, que está à frente das investigações, diz que trabalha com a suspeita de homofobia. Leandro também acha que não há outra justificativa para as agressões, mas não compreende porque foram confundidos com um casal homossexual. “Acho que foi homofobia, achavam que a gente era gay, mas não entendo, éramos gêmeos idênticos, era evidente que éramos irmãos. Eu apenas coloquei a mão em cima do ombro dele! Sempre fomos do bem, honestos, nunca nos envolvemos com nada errado, drogas... Até mesmo na festa, não teve nenhuma confusão, não mexemos com a mulher de ninguém”, observa Leandro. Leonardo era casado e deixa a esposa grávida de quatro meses. Já Leandro está solteiro e tem uma filha de quatro meses.

Além de perder o irmão, Leandro teve o maxilar quebrado em três lugares, quase teve o olho esquerdo perfurado e ainda terá que ser submetido a uma cirurgia. “Meu rosto está bem ferido, roxo. Sinto muita dor na cabeça e nas costas. Não consigo entender, estávamos saindo da festa, indo para casa, quando fomos surpreendidos. A gente nem viu de onde eles vieram, já chegaram batendo, chamando a gente de mulherzinha. Tentamos correr, mas eles tinham punhal, faca, pedra...”, lembra Leandro. Segundo a delegada da 18ª Delegacia de Camaçari, oito homens participaram das agressões e cinco deles estão detidos na unidade policial (Fonte: G1 Bahia).

Imagem: Deco Cury e Rick Day

Tristes tempos: na Bahia aulão é sinônimo de educação

Muito se fala sobre educação e sua capacidade de emancipar indivíduos, de modificar trajetórias, de superar preconceitos e tabus, de transformar povos e nações. De fato, a educação tem essa força, mas somente se for tratada com a devida seriedade e isso inclui não percebê-la, tão somente, como um meio para se ganhar dinheiro fácil. Infelizmente, hoje, o que se vê na Bahia é exatamente o estupro da educação pública estadual. De um lado, um governo cínico que no discurso coloca a educação como prioridade, mas, na prática, se recusa a dialogar com os profissionais da área; de outro, profissionais que, aparentemente, são da área e, sem nenhum escrúpulo, se aproveitam da situação para faturar uma grana alta, grana esta oriunda dos cofres públicos. O que dizer, então? Triste Bahia, ó quão dessemelhante? Não. Afinal, nestas paragens a educação nunca foi prioridade e não é de hoje que ela virou alvo de profissionais inescrupulosos e sem nenhuma noção de ética, preocupados, apenas, em obter lucros exorbitantes, sejam estes oriundos do bolso dos estudantes ou dos cofres públicos. não consigo vislumbrar um futuro promissor para um estado e um país que não entende que educação é coisa séria, muito séria (por Silvio Benevides).


Confira este LINK.

Imagem: Sidney Falcão

segunda-feira, 25 de junho de 2012

25 de junho: a independência do Brasil em Cachoeira, Bahia

A Independência do Brasil ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, segundo afirmam os historiadores mal informados e formados que continuam a acreditar e a alardear que a história desse país se resume tão somente aos fatos passados no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Sem querer desmerecer o brado retumbante do Imperador D. Pedro I, não se proclama uma independência na base do grito. Mesmo no caso brasileiro, cujo processo independência foi protagonizado pelo filho do rei de Portugal, houve derramamento de sangue. E isso ocorreu não apenas nas campinas de Pirajá, mas, também, nas terras do Recôncavo Baiano, mais precisamente na Cidade Heróica de Cachoeira. Conforme escreveu o professor cachoeirano Jadson Luiz dos Santos (Cachoeira: três séculos de história e tradição. Salvador: Contraste Editora Gráfica, 2001), a história de Cachoeira está diretamente ligada ao episódio da independência do Brasil, pois dela partiu o primeiro grito por liberdade. Segundo ele, “o descontentamento causado na população baiana face a posse do Brigadeiro Ignácio Luiz Madeira de Melo como Governador das Armas da Bahia foi, sem dúvida, uma das razões que apressou o movimento contra o domínio português”.

De acordo com o historiador canadense Hendrik Kraay: “A sangrenta Guerra da Independência na Bahia iniciou-se em fevereiro de 1822, quando Portugal nomeou o brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo (1775-1835) para o comando das tropas baianas no lugar de um oficial baiano. A substituição desencadeou a revolta da população, da Câmara e de muitos dos militares baianos, que foram derrotados durante três dias de lutas (de 19 a 21 de fevereiro) e obrigados a fugir. Aos poucos, a partir da articulação dos grandes senhores de engenho do Recôncavo, constituiu-se o Exército Pacificador, composto de soldados e milicianos que haviam deixado Salvador após a derrota, milicianos locais e batalhões provisórios organizados por baianos patriotas, que lutavam contra os portugueses, a favor da Independência” (In: Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 48, setembro de 2009).

Nesse período a soldadesca portuguesa, além de atacar residências particulares, invadiram o Convento da Lapa, em Salvador, matando a abadessa Joana Angélica de Jesus, que, temendo a profanação da castidade das demais freiras, colocou-se diante da porta de entrada do convento como último empecilho aos invasores. Segundo consta, a abadessa teria dito: “Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver”. E assim foi feito. A destemida freira foi assassinada com golpes de baioneta. Já o capelão, Padre Daniel da Silva Lisboa, foi gravemente ferido.

Diz o professor Jadson Luiz (op.cit.): “sendo as garantias e a tranqüilidade perdidas, parte da população deixa a cidade de Salvador e segue para as vilas do Recôncavo, principalmente as vilas de Santo Amaro e de Cachoeira, sendo seguida por alguns oficiais e soldados brasileiros. Ao tomar conhecimento de que em Cachoeira havia um movimento revolucionário, mandou uma canhoneira de guerra subir o Rio Paraguaçu e ancorar em frente a vila a fim de vigiá-la”. Reunidos em Cachoeira, segue o professor, “conseguiram os patriotas cachoeiranos sensibilizar a simpatia de homens de armas que arregimentaram algumas forças, tendo à frente o comandante de Cavalaria José Garcia Pacheco de Moura Pimentel e Aragão, a mais alta patente”.

Devido às circunstâncias de acentuada hostilidade e constantes escaramuças, o Sr. Francisco Gê de Acaíba Montezuma, por meio de uma carta de sua autoria lida na casa do major José Joaquim d’Almeida e Arnizán, conclamou a Câmara a proclamar com urgência o príncipe D. Pedro como Regente do Brasil antes que os portugueses fizessem, o que acabou antecipando o movimento. Assim, segundo o professor Jadson Luiz (op.cit.), as tropas que se encontravam em Belém e no Iguape seguiram para Cachoeira e, deste modo, “ao amanhecer do dia 25 de junho de 1822, as tropas chegadas de Belém ficaram concentradas na Praça da Regeneração. Nessa ocasião, Antônio Pereira Rebouças falou ao povo, convidando a todos a assistir à sessão da Câmara, que aclamaria Dom Pedro. Ao mesmo tempo que chegava o Cel. Rodrigo Antônio Falcão Brandão, mais tarde Barão de Belém, comandando uma centena de bravos do Iguape e de outras localidades, dirigindo-se, também, para a Praça da Regeneração (atual Praça da Aclamação) vindos pelas ruas dos currais velhos...As tropas e o povo ocuparam a praça, a Rua da Matriz e adjacências”.

A reação das forças enviadas a Cachoeira por Madeira de Melo para vigiar a vila foi imediata. O Navio de Guerra Português atracado no Paraguaçu atacou a vila. De acordo com o professor Jadson Luiz (op.cit.) “os primeiros tiros da Canhoneira Portuguesa atingiram o sobrado de número 2 da Rua da Matriz e o Cais dos Arcos, saindo feridos três soldados, morrendo naquela ocasião o Tambor Soledade, perpetuado na tela de Antônio Parreiras...Os cachoeiranos contra atacaram e a luta começou”...e...“continuaram até a tarde do dia 28 de junho de 1822, quando o comandante português mandou um ofício às autoridades cachoeiranas no qual ameaçava arrasar a vila se continuasse a resistência. Reorganizada a defesa, o fogo intensificou-se e, à meia-noite desse mesmo dia, a conhoneira hasteava a bandeira branca...A vitória foi assinalada e festejada na mesma noite com todos as casas iluminadas e as ruas invadidas pelo povo dominado pelo entusiasmo. Após o 25 de junho de 1822 outras vilas do Recôncavo aderiram ao movimento, aclamando o Príncipe Regente”. Nesta data as lutas pela independência do Brasil tiveram início cujo ápice é o 2 de julho de 1823, quando ocorreu a Batalha do Pirajá em Salvador, e não o 7 de setembro, um mero gesto simbólico que representa, na melhor das hipóteses, tão somente a adesão de Dom Pedro ao movimento que exigia a independência administrativa, política e econômica do Brasil (por Silvio Benevides).

Imagem: O Primeiro passo para a Independência (1931), tela de Antônio Parreiras.

Onde está Wally?

Hoje, data em que a cidade de Cachoeira comemora o início das lutas pela independência do Brasil na Bahia, ocorreu algo inusitado. Todos se perguntavam: onde está Wally? Os festejos tiveram início com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. No interior do templo, as autoridades e os outrora “homens bons”. Na porta, o povo. Entre o povo, professores da rede pública estadual em greve desde o dia 11 de abril de 2012, a gritar palavras de ordem. E onde estava Wally? Havia no ar uma expectativa para se saber onde se encontrava Wally. De repente um som de helicóptero. Seria Wally a chegar? Talvez, afinal era um helicóptero oficial. A aeronave pousou no estádio municipal. A comitiva despontou na rua. E Wally? Wally não veio. Quem veio foi o vice dele. Por quê? Seria excesso de compromisso? Como, se a transferência do governo para o município de Cachoeira, nesta data, foi definida em lei aprovada pela Assembléia Legislativa da Bahia e sancionada pelo próprio Wally em 2008, para homenagear os heróis cachoeiranos que, no dia 25 de junho de 1822 deram início às lutas contra os portugueses pela Independência do Brasil, culminando no 2 de Julho, em 1823? Seria medo de enfrentar os professores em greve, greve esta que não tem como ser justificada, afinal, já dura mais de 70 dias? Ninguém entendeu o motivo de tal ausência e como se isso não bastasse, os professores grevistas em protesto foram encurralados num pequeno espaço que lembrou a muitos presentes um curral. Isso mesmo, os professores foram encurralados e Wally nem aí pra isso (por Silvio Benevides).

Imagem: Silvio Benevides