segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Proteja-se das ameaças virtuais

De acordo com Miriam von Zuben, analista de segurança do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes (CERT.br), grupo que faz parte do CGI, é necessário ter em mente que tendo um software antivírus instalado no nosso computador, novas ameaças podem aparecer a todo momento. O problema é que, no Brasil, a maioria das pessoas ainda dizem não terem sido infectadas por algum malware. “A maioria confia muito no antivírus”, diz Zuben.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo CGI em 2010, apenas 1 em cada 7 diz utilizar um firewall, software que controla o tráfego de dados entre o computador e a rede. “Muitos esquecem que um dos primeiros cuidados é manter o sistema operacional e todos os aplicativos atualizados”, explica Zuben. Isso inclui instalar todas as atualizações de segurança disponibilizadas pelo fabricante, medida pouco adotada pelos usuários. Outra dica é instalar complementos e plug-ins de segurança no navegador, de modo a proteger o computador enquanto o internauta navega na internet. Zuben indica o complemento NoScript, disponível no Mozilla Firefox, que impede que os sites executem scripts sem a permissão do usuário.

Segundo o CERT.br, o Brasil é o país que mais hospeda páginas falsas com o objetivo de roubar dados pessoais ou bancários de internautas durante os ataques chamados de “phishing”. Em 2010, o Brasil respondeu por cerca de 35% das reclamações registradas. A equipe do CERT.br trabalha para notificar os provedores que hospedam essas páginas, de modo a tirá-las do ar.

No ano passado, o tempo médio para tirar essas páginas do ar no Brasil foi de três dias. “O ideal é que fosse ainda menos tempo”, diz Cristine Hoepers, analista de segurança do CERT.br. Enquanto a página não sai do ar, internautas ficam sujeitos a cair em golpes virtuais e terem seus dados roubados por criminosos. Para não cair nessas armadilhas, o principal é mudar a postura online. Com isso, os internautas evitam ser infectados por malwares e também cair em golpes de “phishing”. Veja abaixo as principais dicas:

- Não clique em links recebidos por e-mail ou por mensagens instantâneas, mesmo que eles venham de remetentes conhecidos;

- Não forneça dados pessoais, como e-mail, telefone, data de nascimento, em páginas na internet. Esses dados podem ajudar criminosos a preparar golpes customizados, mais difíceis de serem identificados;

- Oriente seus amigos e familiares a terem os mesmos cuidados na web que você. “Não adianta eu me proteger, se as pessoas que estão ao meu redor compartilharem informações sobre mim”, diz Hoepers;

- Crie senhas fortes, com letras e números. Quanto mais caracteres ela tiver, mais dificuldade o sistema do criminoso terá para identificá-la. “Use um trecho de música ou poema para criar a senha”, diz Zuben;

- Não reutilize senhas para fazer login em diversos sites;

- Em dispositivos móveis e computadores, evite utilizar o recurso “Lembre-se de mim” para armazenar nome de usuário e senha. Em um ataque, o sistema sempre consultará primeiro os arquivos de senhas do seu navegador (por Claudia Tozetto para o iG São Paulo).
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Imagem: R.J.Hero – Unbreakable Botton

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Gasto com transporte é igual a despesa com alimentação

O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre mobilidade urbana, divulgado nesta segunda-feira, 24, revela que 44,3% da população brasileira tem no transporte público seu principal meio de deslocamento nas cidades. Na região Sudeste, o percentual atinge 50,7%. Apesar da importância desse tipo de transporte, a quantidade de ônibus em circulação no Brasil cresceu menos, de 2000 a 2010, que a quantidade de veículos particulares. Hoje, há um ônibus para cada 427 habitantes, e, em 2000 era um para 649 pessoas. Em relação aos carros, a proporção hoje é de um automóvel para cada 5,2 habitantes, enquanto há dez anos era de 8,5.

Apresentado pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, o SIPS de mobilidade urbana revela também os contrastes nos tipos de transporte de cada região brasileira. Quase 50% das pessoas que andam de ônibus no país estão na região Sudeste, enquanto 45,5% daqueles que utilizam bicicleta moram na região Nordeste. Da mesma forma, 43,4% dos utilizadores de motocicleta também estão no Nordeste.

“Houve uma mudança de ponto de vista da composição da frota. Em 2000, os automóveis eram 62,7% do total de veículos no Brasil. As motos eram 13,3%. Agora, em 2010, os automóveis são 57,5%, contra 25,2% das motos”, afirmou Pochmann. “Para cada ônibus novo surgido colocado em circulação nos últimos dez anos, apareceram 52 automóveis”, continuou o presidente do Ipea.

Um dos dados citados na apresentação do estudo, retirado da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), é o de crescimento dos gastos com transporte no País. Em 2000, esse tipo de serviço abocanhava 18,7% das despesas de consumo do cidadão, em média. Em 2010, chegou a 20,1%, enquanto a alimentação caiu de 21,1% para 20,2% no mesmo período.

O SIPS traz, ainda, informações preocupantes sobre a quantidade de pessoas afetadas por congestionamentos em cada região do Brasil. No geral, 69% dos cidadãos disseram que enfrentam engarrafamentos. De cada três brasileiros, dois tiveram a percepção de que a sinalização de trânsito é ruim. Em relação à segurança, 32,6% declararam que não se sentem seguros nunca ou se sentem apenas raramente no meio de transporte que mais utilizam.
Pochmann concluiu que a expansão da frota brasileira na última década se deu especialmente por meio de motos e automóveis. “Houve crescimento no transporte coletivo, mas não na mesma proporção. A população tem interesse em usar o transporte público, mas ainda precisa identificá-lo mais com características de rapidez, melhor preço e segurança. Há espaço para ação em matéria de políticas públicas”, disse (Fonte: Ipea).

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pólvora e Poesia

Ressoa em minhas entranhas, feito o eco na imensidão, uma sonora e silenciosa canção. “Que venha, que venha a hora da paixão”. Mas do que estou a falar? Falo do desejo, essa fome insana que jamais cessa. Apetite voraz, que nos impele à ação. Apetite sensível, que agrada aos sentidos, tato, audição, paladar, olfato, visão. Desejo que atormenta quando o furor não se derrama em deleite. Desejo que alimenta o corpo e o espírito quando bocas, línguas, mãos, pernas e braços se entrelaçam sem medo, sem razão. Ó agitação de minha alma, a ti meu tesouro foi entregue! Nada mais posso fazer. Só me resta fugir para o inferno, o paraíso do meu ser.

Em filosofia, o desejo é uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. É uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a representação do fim esperado, o qual é o conteúdo mental relativo a tal atitude. Enquanto elemento apetitivo, o desejo se distingue da necessidade fisiológica ou psicológica que o acompanha por ser o elemento afetivo do respectivo estado fisiológico ou psicológico. Tradicionalmente, o desejo pressupõe carência, indigência. Um ser que não caressesse de nada não desejaria nada, seria um ser perfeito, um deus. Por isso Platão e os filósofos cristãos tomam o desejo como uma característica de seres finitos e imperfeitos. Sejamos, pois imperfeitos! E demos vivas a imperfeição! Assim viveu Arthur Rimbaud. Assim se perdeu e se achou Paul Verlaine. Ambos poetas, ambos franceses, ambos escravos do desejo e da paixão. E é precisamente sobre o desejo e a paixão que uniram Rimbaud e Verlaine que discorre o espetáculo Pólvora e Poesia, dirigido pelo sempre excelente Fernando Guerreiro e interpretado pelos magníficos Talis Castro (Arthur Rimbaud) e Caio Rodrigo (Paul Verlaine), em cartaz até o dia 20 de fevereiro no Espaço Cultural da Barroquinha.

Provocante, ousado e intenso, como provocante, ousada e intensa foi a relação amorosa de Rimbaud e Verlaine, o espetáculo suscita diversas emoções e algumas reflexões. De acordo com uma atenta espectadora, “Pólvora e Poesia é um incrível e muito forte espetáculo. Eu não tinha conhecimento da biografia de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud além das poucas citações feitas dos seus nomes como poetas na minha época de aluna de francês. Fiquei surpresa com o que descobri e aprendi muito sobre eles com essa peça. Nunca tinha visto um espetáculo tratar uma relação amorosa homossexual de maneira tão pura e intensa, como foi mostrado. Diria que esse foi um espetáculo de muita emoção e feito com a alma! Saí satisfeita com as ótimas interpretações dos atores e admirada com o fantástico trabalho de corpo por eles apresentados. Estão de parabéns! Ótima movimentação de palco! Impressionante como eles conseguem aproveitar aquela mesa e resignificá-la! Apesar de ser um texto denso, o público fica a todo tempo atendo. São cenas surpreendentes de deixar o queixo caído e fazer com que as pessoas pensem nos seus conceitos e preconceitos. Mesmo sabendo que o momento histórico ali apresentado era outro, sabemos que os preconceitos ainda são os mesmos".
Ser reflexivo, ao menos para mim, é a principal característica de grandes espetáculos teatrais, de grandes livros e filmes. A primeira das reflexões que me ocorreram enquanto assistia ao espetáculo diz respeito, como não poderia deixar de ser, ao próprio desejo, essa força que não pode ser detida ou contida, por mais que se tente. Cedo ou tarde ele aflora e quando isso acontece, não há razão ou amarra forjada pelos códigos da tão referenciada e reverenciada civilidade que possa detê-lo. O melhor a se fazer é aprender a lidar com essa força, antes que ela vire um tormento ou uma doença, como é o caso da homofobia, por exemplo. Outra reflexão que o espetáculo suscita e a que, particularmente, me chamou mais atenção foi a questão do medo.

Verlaine era um homem bem situado na sociedade francesa do século XIX. Gozava de grande prestígio entre seus pares e, como convinha aos homens bem situados, e a todos que pretendiam ser, ele, também, era casado e pai de um filho. Tudo transcorria conforme os ditames da chamada “boa civilização” até que apareceu na vida do nobre poeta francês um furacão que atendia pelo nome de Rimbaud. Belo, jovem, audacioso, avesso às convenções e profundo admirador das poesias de Verlaine, Rimbaud o convidou a viverem juntos uma longa temporada no inferno do desejo. O estabelecido Verlaine rapidamente se converteu num outsider. Sua vida transmutou-se num furioso mar de alegria, tristeza e medo. Alegria por viver um amor intenso e libertador, que poucos têm a sorte de viver. Tristeza e medo por repudiar as consequências não desejadas que todos aqueles que ousam transgredir as regras enfrentam, isto é, desprezo, escárnio, ódio, entre outras emoções devastadoras. Ao contrário de Rimbaud, Verlaine foi um homem dividido. Não devemos julgá-lo por isso, afinal, quantos de nós evitam viver certas emoções, calam ou sufocam certos desejos e sentimentos por puro medo de ser mal entendido, mal interpretado, rejeitado ou, simplesmente, ignorado?

Como escreveu Coccinelle: “Desde crianças ouvimos conselhos que nos ensinam a ter cuidado. Cuidado com o nosso corpo, nossa alimentação, com as nossas palavras, nossos pensamentos, nossos sentimentos e desejos. Passamos a vida a ter cuidado. Mas tanto cuidado acaba abrindo caminho para o medo. Medo de doenças, da velhice, de insetos nojentos, medo do escuro, de nossas palavras, pensamentos, sentimentos, desejos, do diferente, da vida, enfim. São tantos os medos aprendidos e apreendidos ao longo de nossa existência que, por vezes, esquecemos de viver”. Esse não foi o caso de Rimbaud e Verlaine, já que eles viveram intensamente os versos de amor que escreveram juntos. Mas é o caso de muitos leitores dessas linhas, de tantos outros que, porventura, venha a ler esse texto e, de certo, daqueles que o escreveram (por Coccinelle e Sílvio Benevides com a colaboração de Gina Carla Reis).

O Salvador na sola do pé aproveita a ocasião para homenagear mais uma vez a poesia e o amor por meio dos versos O mundo é grande, do Carlos Drummond de Andrade, e Canção da torre mais alta, do Arthur Rimbaud. Trata-se do mesmo Poema Falado publicado em junho do ano passado. Boa áudio-leitura!



PÓLVORA E POESIA – Texto: Alcides Nogueira. Direção: Fernando Guerreiro. Elenco: Caio Rodrigo e Talis Castro. Assistência de direção e preparação de elenco: Hilda Nascimento. Assessoria coreográfica: Lucas Tanajura. Direção musical e guitar man: Juracy do Amor. Iluminação: Irma Vidal. Cenografia: Rodrigo Frota. Figurino: Hamilton Lima. Cabelo e maquiagem: Deo Carvalho. Produção executiva: Xanda Fontes. Espaço Cultural da Barroquinha até 20 de fevereiro.
Imagem: Maira Lins

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Poema Falado: Elegia a uma pequena borboleta

Quando criança costumava pegar borboletas com as mãos. Segurava-as com todo o cuidado, mas mesmo assim suas asas ficavam presas aos meus dedos, e a borboleta não conseguia voltar a voar. Parei, então, de segurar borboletas com as mãos, mas sempre que as vejo fico a pensar na coragem das borboletas. Voar para tão longe com asas tão delicadas. Acho que é assim o destino de quem nasceu para ser borboleta. Não tem jeito! Quem nasceu para voar, cedo ou tarde acaba voando, mesmo que lhe cortem as asas. É impossível aprisionar o destino (por Aline Lombello). A fim de homenagear as incansáveis e corajosas borboletas, o Poema Falado de fevereiro discorre sobre as borboletas por meio do belíssimo texto da inesquecível Cecília Meireles. Esta postagem é dedicada a PAPPILLON. Boa audioleitura! E, para não dizer que não falei das flores, parabéns, querida Pappillon! Antes nunca do que tarde!!!

Como chegavas do casulo,
- inacabada seda viva! -
tuas antenas - fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,

minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
Não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo
que no estame não pesaria.

Choro esta humana insuficiência:
_ a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos - violências
que o sonho e a graça prostram mortos.

Pudesse a etéreos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
_ vôo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!



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Imagem: José Antônio

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Abaixo a ditadura no Egito!

Esta postagem era para ontem, mas devido ao apagão que deixou às escuras todo o Nordeste, isso não ocorreu. Ficou, então, para hoje. Como ia dizendo, eu não pretendia voltar ao tema Egito, mas como me enviaram a mensagem abaixo, eu não resisti em reproduzi-la aqui.

Jornalistas brasileiros são detidos no Egito – Enviados ao Cairo para a cobertura dos protestos no Egito, o repórter Corban Costa, da Rádio Nacional, e o repórter cinematográfico Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram detidos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos na quarta-feira. Outros jornalistas estrangeiros também foram agredidos e detidos nos arredores da praça Tahrir, onde manifestantes pró e contra o presidente Hosni Mubarak se enfrentam pelo segundo dia.

De acordo com a Agência Brasil, os dois repórteres brasileiros passaram a madrugada desta quinta-feira trancados em uma delegacia do Cairo, em uma sala sem janelas e com apenas duas cadeiras e uma mesa. “É uma sensação horrível. Não se sabe o que vai acontecer. Em um primeiro momento, achei que seríamos fuzilados porque nos colocaram de frente para um paredão, mas, graças a Deus, isso não aconteceu”, afirmou Corban, que juntamente com Gilvan volta para o Brasil na sexta-feira.

Para serem liberados, os repórteres disseram ter sido obrigados a assinar um depoimento em árabe, no qual, segundo a tradução do policial, ambos confirmavam a disposição de deixar imediatamente o Egito rumo ao Brasil. “Tivemos que confiar no que ele [o policial] dizia e assinar o documento”, contou Corban.

No caminho da delegacia para o aeroporto do Cairo, Corban disse que todos os automóveis eram parados em fiscalizações policiais e os documentos dos passageiros, revistados. Os estrangeiros são obrigados a prestar esclarecimentos. De acordo com o repórter, o taxista sugeriu que ele omitisse a informação de que era jornalista. Outro jornalista brasileiro, Luiz Antônio Araujo, contou ter sido atacado e roubado por um grupo de 50 partidários do presidente Mubarak. Enviado especial do jornal “Zero Hora” e da rede RBS ao Egito, Araujo disse ter sido cercado por um grupo de pessoas munidas de pedras e facas, que roubaram sua câmera digital e sua carteira.

De acordo com o jornalista, o ataque aconteceu nesta quinta-feira, quando ele tentava entrar na praça Tahrir. Araujo contou que soldados do Exército egípcio viram o roubo, mas não esboçaram qualquer reação. No hotel onde o repórter do iG está hospedado, Ramsés Hilton, a situação não é menos tensa. Os jornalistas estão impedidos de filmar, dos seus quartos, a praça Tahrir, sob a alegação de isso pode pôr a segurança do hotel em risco. Nesta manhã, inúmeras vezes guardas do estabelecimento subiram às pressas para os quartos de onde havia câmeras operando. Eles também tentaram confiscar a câmera de vídeo de um cinegrafista inglês e pediram que esse tipo de equipamento fosse deixado na recepção para quem fica nos quartos diante da praça. Na quarta-feira, homens de terno entraram nos quartos de outros três repórteres brasileiros, da “Folha de São Paulo”, “O Globo” e “O Estado de São Paulo”, em busca de equipamento fotográfico com imagens do confronto. A direção do hotel informou que vai expulsar os hóspedes que insistirem em filmar.

O enviado especial da BBC ao Egito Rupert Wingfield-Hayes contou que na quarta-feira foi detido pela polícia secreta egípcia, algemado e vendado. Os policiais prenderam-no por três horas, interrogaram-no e depois o soltaram. A emissora Reuters Television relatou que integrantes de sua equipe foram agredidos nesta quinta-feira perto da Praça Tahrir, enquanto registravam imagens para uma reportagem sobre bancos e lojas que foram obrigadas a fechar durante os confrontos entre as duas facções. Eles teriam sido agredidos, ameaçados e xingados. Sua câmera, microfone e tripé foram destruídos.

Na quarta-feira, a veterana jornalista Christiane Amanpour, da rede ABC News, contou ter sido cercada por militantes quando tentava entrevistar um ativista pró-Mubarak, e eles teriam gritado: '”vá para o inferno”' e “nós odiamos os Estados Unidos”. O repórter da rede CNN, Anderson Cooper, disse que, ao entrar na praça, ele, um produtor e um cinegrafista foram cercados por uma multidão, que começou a socá-los e a tentar e tomar suas câmeras. A rede de TV americana CBS informou que integrantes de sua equipe foram forçados a abandonar a praça Tahrir não sem antes entregar suas câmeras sob a mira de armas por supostos militantes pró-governo. De acordo com a entidade não-governamental Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, essas agressões estariam diretamente ligadas à tentativas do governo egípcio de intimidar ou censurar jornalistas. “O governo egípcio está empregando uma estratégia de eliminar testemunhas de suas ações”', afirmou à agência de notícias Reuters o coordenador de Oriente Médio e África da organização, Mohamed Abdel Dayem. Segundo ele, as ações constituem “ataques deliberados contra jornalistas realizados por hordas pró-governo” (Fonte: Último Segundo).

Como é possível perceber na matéria acima, toda e qualquer ditadura persegue, cerceia liberdades, não respeita direitos, humilha, tortura e mata. Povos e nações que se dizem democráticos não podem, em hipótese alguma, ser coniventes com governos ditatoriais. Uma nação que se orgulha em defender os valores da democracia não pode, sob qualquer pretexto, aplicar um modelo democrático para seus cidadãos e um outro para os cidadãos de nações estrangeiras. Como escrevi em outra postagem, e volto a afirmar, não entendo nada ou quase nada sobre a dinâmica das relações internacionais, mas sei, ou melhor, imagino que o respeito pela ética e pela dignidade humana não são os valores que as norteiam. Por isso, acredito que a comunidade internacional que defende os valores democráticos como princípios primordiais para a convivência harmoniosa entre os povos e os seres humanos deve pressionar, veementemente, o Egito até que déspota Hosni Mubarak renuncie. E não basta “aumentar o tom” do discurso ou “condenar” as atitudes do governo. Os ditadores não se intimidam com esse tipo de mise-en-scène. É preciso por em prática atitudes concretas como retirar o apoio político e econômico ou mesmo romper formalmente com as relações diplomáticas. Se são os valores democráticos que estão em jogo, então, façamos, de fato, a sua defesa. Que Allah dê força a essa gente farta de autoritarismo e faça soprar novos ventos sobre o mundo árabe-mulçumano, reduzindo a pó todos os seus desnecessários e vis ditadores (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Khalil Hamra/AP

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dois de Fevereiro: dia de Iemanjá

Conta a tradição dos povos iorubás (atual Nigéria), que Iemanjá era a filha de Olokum, deus do mar. Em Ifé, tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos, todos orixás. De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos. Cansada da sua estadia em Ifé, Iemanjá fugiu na direção do “entardecer-da-terra”, como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá. Iemanjá continuava muito bonita. Okerê propôs-lhe casamento. Ela aceitou com a condição que ele jamais ridicularizasse a imensidão dos seus seios. Um dia, Okerê voltou para casa bêbado. Tropeçou em Iemanjá, que lhe chamou de bêbado imprestável. Okerê então gritou: “Você, com esses peitos compridos e balançantes!” Ofendida, Iemanjá fugiu. Okerê colocou seus guerreiros em perseguição e Iemanjá, vendo-se cercada, lembrou que tinha recebido de Olokum uma garrafa, com a recomendação que só abrisse em caso de necessidade. Iemanjá tropeçou e esta quebrou-se, nascendo um rio de águas tumultuadas, que levaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de Olokum. Okerê tentou impedir a fuga de sua mulher e se transformou numa colina. Iemanjá, vendo bloqueado seu caminho, chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos, que lançou um raio sobre a colina Okerê, que abriu-se em duas, dando passagem para Iemanjá, que foi para o mar, ao encontro de Olokum. Iemanjá usa roupas cobertas de pérola, tem filhos no mundo inteiro e está em todo lugar onde chega o mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la. Iemanjá, Odô Iyá (rainha das águas), nunca mais voltou para a terra. Ainda existe, na Nigéria, uma colina dividida em duas, de nome Okerê, que dá passagem ao rio Ogun, que corre para o oceano (Fonte: Portal do Rio Vermelho).

Para homenagear a Rainha do Mar, o Salvador na sola do pé preparou um Poema Falado especial, intitulado Flor à Iemanjá, de Augusto Barros. Diz o poema: “Os meus pés não sentem mais o chão / Já não afundam como antes / Apenas sigo adiante ao fundo / Embalado pelo ritmo de sua canção // A melodia do azul das ondas / Quando se confunde com o bege / Gritando em brancas espumas / Faz com que eu, por hora, suma // E o maestro que rege / Esta orquestra dessincronizada / Já não habita aqui há tempos... / Tudo, então, como queiram os ventos // Nessa confusão de cores e sons / O mar invade cada vez mais o meu corpo / Por dentro e por fora... / E assim deixo // Deixo porque agora / Descobri que somente sendo / Inteiramente seu / Sou inteiramente meu” (In: Poesias do Augusto). Salve Iemanjá! Odô Iyá!




Imagem: Sereia brasileira, por Flaviana Fernandes