segunda-feira, 28 de junho de 2010

Da série na sola do pé: RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro. Cidade que ocupa no imaginário da humanidade um lugar de destaque. Suas maravilhas a muito decantadas em prosas, versos, imagens, sombras, luzes e sons magníficos chamam a atenção de quem quer que a visite. Sem dúvida, o Rio de Janeiro é uma cidade maravilha, quer dizer, maravilhosa.

Sim, o Rio de Janeiro continua lindo, mas, a despeito das suas belezas extraordinárias, a cidade maravilhosa vista de perto se assemelha a qualquer outra cidade. É tão comum como comuns são outras tantas cidades espalhadas por esse imenso Brasil, a exemplo de Salvador, Aracaju, Goiânia, Brasília, Fortaleza, Maceió, Porto Alegre, São Paulo... Espere um pouco. Pensando bem, São Paulo é diferente, pois como já escreveu o Caetano Veloso, São Paulo é como o mundo todo. Tudo em São Paulo é extremamente gigantesco, meu Deus! Mas isso é assunto para outra ocasião.

Voltando ao tema em questão, como disse, o Rio de Janeiro é uma cidade bastante comum. Ela não causa o impacto esperado, ou seja, espanto. Isso talvez ocorra porque o Rio de Janeiro é uma cidade em evidência constante. Seja na literatura, nas artes plásticas, no cinema, na fotografia, na publicidade, nos noticiários, na música, nas telenovelas, enfim, a cidade, de uma maneira ou de outra, aparece constantemente retratada. Isso nos aproxima dela de tal modo que quando dela nos aproximamos, experimentamos uma estranha sensação de déjá vu. É como se sempre tivéssemos estado lá. E isso nada tem a ver com lembranças de vidas passadas, mas, sim, com imagens traçadas desde muito antes do Machado de Assis.

O Rio de Janeiro guarda tesouros que somente lá se pode encontrar. Refiro-me ao Cristo Redentor, imponente nas alturas do Corcovado, e ao Pão de Açúcar. Visto de perto, o Rio de Janeiro pode até parecer uma cidade como outra qualquer, mas do alto do Corcovado e do Pão de Açúcar sua beleza é imbatível, pois não tem igual. Beleza assim nunca vi e, de certo, não há em nenhum outro lugar dentro ou fora do Brasil. Beleza esplêndida, magnífica, grandiosa, admiravelmente maravilhosa! Sim, o Rio de Janeiro continua lindo e continuará sendo por muito tempo mais com as bênçãos dos Orixás e do Cristo Redentor de “braços abertos sobre a Guanabara”. Esse texto é só porque, Rio, amei você (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Rio de Janeiro, por Sílvio Benevides.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Da série na sola do pé: JUIZ DE FORA

Quando se ouve falar em Minas Gerais, costuma-se lembrar logo do pão de queijo, do Juscelino Kubitschek, do Tancredo Neves, do Milton Nascimento, do Carlos Drummond de Andrade, das cidades históricas, da Inconfidência, do Tiradentes, do barroco, do Aleijadinho. Sem dúvida Minas Gerais tem muito a nos dizer e nos mostrar. Entretanto, não só de pedras exuberantes são formados os tesouros mineiros. Há pedras discretas, porém, não menos preciosas, que, também, provocam enorme encantamento. É o caso de Juiz de Fora.

Pode-se dizer que tudo em Juiz de Fora é deveras acolhedor. A começar pela rodoviária, um dos seus principais portões de entrada. Lá, a expressão “seja bem-vindo” não soa como palavras vazias soltas ao vento. Soa-nos, isto sim, como um discreto, mas intenso gesto acolhedor. E o que dizer das pessoas? Os cidadãos de Juiz de Fora, cuja designação até agora desconheço, são muito simpáticos. Uma simpatia sem estardalhaço, o que faz da simpatia algo ainda mais simpático.

Simpática, também, e não menos acolhedora, é a belíssima catedral da cidade cujo padroeiro é Santo Antônio, que em seus braços acolheu o Menino Jesus e, por intercessão dele, distribuiu calor para quem de frio padecia. Talvez por isso, tudo em Juiz de Fora seja tão acolhedor.

Quanto às suas veias e vias, diria que por esse aspecto, a cidade não é bonita, nem feia. Mas quem saberia dizer o que, ao certo, a beleza significa? Para ser bela, uma cidade não precisa ser esfuziante. Basta ser encantadora. E encantos não faltam a Juiz de Fora. Serras verdejantes, vida in natura aos borbotões, sem esquecer os seus jardins repletos de antúrios caprichosamente esculpidos pela natureza. São antúrios dos mais diversos tipos e origens. Antúrios de todas as cores. Uns grandes e robustos, outros, pequenos e franzinos; uns ainda verdes, outros bem maduros. Todos, porém, igualmente belos e por demais encantadores. É um verdadeiro espetáculo para retinas que vivem a buscar o belo. Quisera eu tê-los colhido um a um para saciar a sede das minhas máculas.

Bem, creio ter chegado a hora de encerrar essas breves linhas. De ti, Juiz de Fora, levo comigo uma enorme vontade de voltar, seja amanhã ou depois. Isso, contudo, Santo Antônio é quem dirá. Quanto a mim, cabe, apenas, esperar (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Centro de Juiz de Fora/MG, por Silvio Benevides.

domingo, 13 de junho de 2010

Hoje é dia de Santo Antônio

Santo Antônio é um santo que viveu e continua a viver entre os homens. Já se passaram mais de 750 anos desde a sua morte e, apesar de tudo, ele, inexplicavelmente, continua a atrair pessoas de todas as classes sociais e a alimentar uma chama sempre viva de devoção popular. O porquê de tudo isso nós não conseguimos explicar. A devoção a este Santo é um fenômeno que supera nossa compreensão racional.

Já os contemporâneos do Santo apresentam sua atividade de pregador como um acontecimento extraordinário. E nos seus escritos refletem-se, também, aqueles ensinamentos profundos que fascinavam as imensas multidões que se aglomeravam e se comprimiam em torno do seu púlpito. Santo Antônio foi, antes de mais nada, um conquistador de almas. Ele não se contenta em arrancá-las da corrupção e do pecado, mas insiste em estimulá-las a uma vida cristã corajosa e intensa, guiando-as através de um conhecimento mais atento e aprofundado das verdades reveladas e, de modo muito especial, através da confissão, da penitência e da eucaristia. É por essa razão que, tanto em sua vida quanto em nossos dias, este Santo continua sendo um dos mais eficazes e indicados guias espirituais do povo cristão. Ele, que ainda ultimamente foi declarado pelo Papa João Paulo II “doutor evangélico” da igreja universal, continua, ainda hoje, o seu magistério.

É pelo caminho da evangelização – embora muitas vezes também ajude nas necessidades materiais – que este Santo continua levando as almas para Cristo, confortando-as a fim de que perseverem generosamente na graça e na caridade. É, sem dúvida, um mistério de predileção, um desígnio divino do amor de Deus para com este seu humilde Santo e infatigável apóstolo; mistério da graça que nós não conseguimos compreender plenamente, mas que só podemos admirar.
Eis porque não hesitamos em afirmar que Santo Antônio é, sem qualquer dúvida, uma testemunha da Providência, um mensageiro de Deus, que parece vir ao encontro das exigências e das necessidades da nossa vida: desde as mais importantes – como a fé e a conversão – até as mais simples, como o são as graças materiais. Eis aí, portanto, a faceta mais significativa da devoção a este Santo: que nós, através de Santo Antônio, consigamos redescobrir a Cristo (por Terenzio de Poi).
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Imagem: Santo Antônio por Cleiton Campos.

Dos escritos de Santo Antônio

Oh, coração de pedra, que não sentes compaixão com o próximo, que, entretanto, está feito da mesma carne que a tua! É como se tivesses a coragem de dizer: quem é este nosso irmão com o qual precisamos nos preocupar? Tu és igualzinho a Nabal, que negou um pouco de comida a Davi e a seus soldados, irrompendo até nestas graves injúrias: “quem é esse Davi? Deverei, então, pegar meus animais para dá-los a homens que nem conheço e nem sei de onde vêm”? Mas lembra-te de que – como se lê na sagrada escritura – por causa disto o coração de Nabal se tornou como que de pedra [...] Hoje ainda existes, amanhã já não mais: nada mais incerto que a hora da morte, embora não haja nada mais certo do que ela mesma [...] Quem quiser se alimentar dignamente do corpo de Cristo...traduza em obras as suas palavras [...] Quem prega a verdade está afirmando Cristo, quem cala a verdade está renegando a Cristo [...] A vida cristã pode se comparar ao arco-íris, que se estende majestoso de uma ponta até outra do horizonte: várias são as cores, mas predominam o vermelho cor-de-fogo e o azul celeste. O primeiro é a chama do amor a Deus, o segundo é a ternura do amor fraterno (por Santo Antônio de Pádua).
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Imagem: Santo Antônio por Henrique Passos.

domingo, 6 de junho de 2010

Poema Falado: Drummond e Rimbaud

Teu desejo inclui e é senhor do meu; vida a meus pensamentos dentro de seu coração é dada; minhas palavras começam a respirar sobre teu hálito...por que devo procurar apaziguar desejo intenso com ainda mais lágrimas e palavras sopradas de dor, quando o céu, mais tarde ou mais cedo, não manda alívio para almas a quem o amor vestiu com fogo”? (Michelângelo)

A homossexualidade é mais velha que a humanidade, tendo florescido entre nossos ancestrais hominídeos. Pesquisas antropológicas em sociedades pré-históricas estabeleceram que relações entre indivíduos do mesmo sexo eram permissíveis e, ainda, desempenhavam papel crucial no ritual de passagem masculino. Arqueólogos, investigando as civilizações da Suméria, Mesopotâmia e Egito, descobriram evidências de que o amor homossexual era vital para a integridade do tecido social.

O status privilegiado da homossexualidade na Grécia antiga é conhecido, mas o “amor grego” era um ideal importante também para a militarista Roma. Na China e na Índia da antiguidade, assim como no Império Islâmico, o amor pelo mesmo sexo era respeitado e honrado. Na Renascença, a homossexualidade floresceu em sociedades abertas com a florentina.

Se desde o início a Igreja lutou contra o amor pelo mesmo sexo, era porque ele estava [e ainda está] por toda parte a sua volta [nas diversas ordens religiosas, masculinas e femininas], nas congregações e entre seus próprios sacerdotes. A homossexualidade ameaçava sua autoridade. Onde quer que tenha havido tirania e totalitarismo, o amor pelo mesmo sexo foi reprimido [talvez pelo seu caráter intrinsecamente libertário]. Da Espanha de Ferdinando e Isabella ao Reich nazista. De Santo Agostinho ao senador americano Joseph McCarthy, ideólogos acharam na “anormalidade” sexual um sinal claro de heterodoxia doutrinal ou política.

Mas apesar da discriminação, da perseguição e da violência de que foram vítimas, homens e mulheres ao longo da história e em todo o mundo defenderam seu direito à diferença. Seja encontrando-se furtivamente em mosteiros e conventos na Europa medieval, ou mais abertamente em clubes e bares de nossas cidades contemporâneas. Seja engajados nos exércitos sem poder revelar suas identidades sexuais, seja proclamando-as nas manifestações pelos direitos homossexuais que ocorrem freqüentemente na maioria dos países do Ocidente (por Colin Spencer. In: Homossexualidade, uma história).

Tais manifestações, comumente chamadas de Paradas do Orgulho Gay têm origem no episódio ocorrido em 1969 na cidade de Nova York, EUA, conhecido por “Batalha de Stonewall”. Naqueles tempos era uma prática corriqueira a polícia prender clientes de bares freqüentados por homossexuais. Em um desses bares, o Stonewall Inn, não era diferente. As prisões e agressões praticadas por policiais contra os freqüentadores homossexuais era algo bastante comum. No dia 28 de junho daquele ano, entretanto, as coisas começaram a mudar. A polícia, como de costume, entrou no bar quando este já se encontrava cheio e comunicou aos presentes que prenderia todos que estivessem vestidos de mulher. Os clientes, porém, resolveram dar um basta naquela situação e reagiram com garrafadas e socos. Os clientes dos bares vizinhos também se envolveram na briga. Foram cerca de duas mil pessoas contra 400 policiais. Esse episódio se configurou numa vitória contra a intolerância. No ano seguinte, 1970, centenas de pessoas saíram às ruas de Nova York para celebrar o primeiro aniversário do episódio de Stonewall. O 28 de junho passou a ser lembrado e celebrado nas ruas de vários países como o dia do orgulho gay. Mais que isso, como o dia do orgulho de um amor que, a despeito das perseguições e massacres que sofreu durante muito tempo, desafiou e desafia os poderes constituídos e, hoje, já não teme em bradar seu nome. E é para celebrar esse orgulho que o Poema Falado desse mês de junho traz os versos O mundo é grande, do Carlos Drummond de Andrade, e Canção da torre mais alta, do Arthur Rimbaud. Boa leitura! (por Sílvio Benevides)
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Imagem: Ricardo Santos